Reconecte-se (André Oliveira)

André Oliveira/Arquivo pessoal

Seu celular está no bolso e acaba de vibrar com uma nova notificação. Por quanto tempo você resiste à tentação de checar? Por que estamos tão viciados em nossos relacionamentos virtuais? Quem entre nós não começa o dia dando uma olhadinha, ainda que rápida, em algum aplicativo? Seja para ver uma mensagem que possa ter chegado enquanto estávamos offline (hábito cada vez mais raro), seja para ver uma notícia que está circulando pelo mundo, ou ainda apenas pelo velho e constante hábito de começar deslizando o dedo pela tela dos dispositivos eletrônicos, especialmente os smartphones.

As telas se transformaram no novo habitat do indivíduo do século 21. Na década de 1970 aqueles que estavam engajados em observar o comportamento humano já anunciavam que haveria o tempo em que o mundo caberia na “palma da mão”, pois bem, esse dia chegou e já faz tempo. Viver conectado tornou-se a palavra de ordem da nossa geração; de crianças a idosos vivemos em uma constante imersão no mundo digital. Não é preciso muito esforço para citar as vantagens de tal imersão, no entanto, a pergunta que se levanta aqui é: e quanto aos prejuízos psicológicos, físicos e mentais que tal imersão cobra?
Buscar o equilíbrio da imersão no mundo digital com o bem-estar físico e mental está se tornando uma tarefa cada vez mais difícil. O Brasil, para não ir longe, é um dos países no qual os usuários (note-se que a mesma palavra – usuário – é usada também para aqueles identificados como dependentes químicos) passam 9h por dia ao celular ou em outros aparelhos eletrônicos, ele também é vice-líder mundial em dependência da tecnologia e as pesquisas mostram que quanto mais tempo as pessoas acessam redes sociais, mais ansiosas e deprimidas elas se tornam, além disso, o isolamento social potencializa a dependência tecnológica e estudos recentes informam que o nível de ansiedade e estresse entre jovens aumentou nos últimos anos.
Entendemos que muitos de nós foram afetados pelo uso descontrolado das telas e, por isso, precisamos gerar reflexões e ações que protejam nossa sociedade no futuro!
Os dados são alarmantes e assustadores, mas existem alternativas bem interessantes que podem fazer com que nossa relação com os aparelhos eletrônicos seja saudável.  Primeira dica que apresentamos é que se estabeleçam horários para verificar as redes sociais, claro que não podemos ignorar o fato de que algumas profissões dependem do uso constante de certos aplicativos, entretanto mesmo neste caso é possível desenvolver estratégias que possam auxiliar; outra medida eficaz é perguntar a si mesmo: o que eu poderia fazer nesse momento se não estivesse conectado virtualmente? As respostas a tal pergunta são quase infinitas: ler um livro, praticar esportes, tomar  café com um amigo, visitar alguém querido que não se vê há tempo.
O tema deste artigo parece, à primeira vista, ser paradoxal, pois o que se pretende dizer com reconecte-se vai justamente na contramão do que diz respeito apenas à vida virtual e digital, mas faz-se aqui um convite à reflexão sobre a importância da conexão relacional, afinal em tempos não muito distantes as pessoas tinham conexões mais estáveis, relacionavam-se com pessoas que moravam na mesma rua, estavam conectadas a grupos de igreja  ou grupos que praticavam esportes, ou seja, tinham mais chances de criarem conexões interpessoais saudáveis, bem  como outras coisas.
Há um princípio antigo registrado no livro dos inícios chamado Gênesis, e nele é dito a nós: “não é bom que o homem esteja só”, ainda que a psicologia do solitário esteja tão em alta nos dias atuais, é imprescindível voltarmos nossa atenção à importância dos laços afetivos e presenciais que nos cercam, afinal de contas nem só de telas viverá o homem, mas de toda a plenitude da criação proporcionada pelo Criador, que nos estimula a fortalecer os vínculos, investir em amizades sinceras, enfim, em relacionamentos que façam bem ao coração.
André Oliveira é pastor, psicólogo, pós-graduando em terapia cognitiva comportamental.

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