O silêncio de Zucco após a tempestade

Luciano Zucco (Pablo Valadares, Câmara dos Deputados)

O líder da Oposição, coronel Luciano Zucco (PL/RS), havia se consolidado como o principal operador político de Jair Bolsonaro na Câmara. Desde que entrou no PL, virou uma espécie de coordenador informal do ex-presidente: organizava agendas, articulava encontros, puxava coletivas semanais e dominava o “mercado” das notas oficiais, sempre inflamadas. Era presença fixa em manifestações da direita, especialmente em São Paulo, discursando para manter acesa a chama do bolsonarismo. Talvez o deputado tenha que dar uma avaliada também na relação dele com os veículos de comunicação do interior. Jornalistas fora da capital sentem uma séria resistência a conseguir entrevistas com o líder da Oposição.

Navegando no silêncio

A engrenagem, contudo, travou. Com a prisão preventiva de Jair Bolsonaro e a confirmação da condenação, Zucco afastou-se dos holofotes. Cortou entrevistas, evitou declarações e passou a navegar no silêncio. O gesto vai além da cautela: revela o temor de se associar a um naufrágio político ainda em curso.

O vácuo que ninguém sabe preencher

A direita brasileira enfrenta agora seu maior teste desde 2018. Com Bolsonaro fora de cena, o campo conservador busca um herdeiro do espólio político e emocional da militância. Tarcísio de Freitas, Romeu Zema e Ronaldo Caiado medem suas forças, mas nenhum empolga o eleitorado bolsonarista raiz. Na própria família, Michele, Flávio e Eduardo tentam manter presença, mas carregam o desgaste da queda do patriarca. A direita procura rosto, discurso e projeto, e o relógio eleitoral corre rápido.

Projeto Palácio Piratini

No Rio Grande do Sul, Zucco articula discretamente sua rota ao Palácio Piratini. A estratégia era clara: usar a projeção nacional e o vínculo com Bolsonaro para se apresentar como candidato natural da direita gaúcha. Mas o cenário mudou. O eleitor conservador está confuso. Zucco agora enfrenta o dilema: como herdar o bolsonarismo sem carregar o peso da condenação do ex-presidente. O silêncio parece sua resposta tática, resta saber se funcionará.

2026 já começou

O fato é que 2026 já está em curso. E no Rio Grande do Sul, onde o pragmatismo político é implacável, o eleitor cobra firmeza e projeto. Zucco precisa voltar a público, não com notas repetitivas, mas com maturidade política e consistência.

O futuro da direita

O futuro da direita dependerá menos do grito e mais de quem conseguir reorganizar a militância sem depender de um único líder, construir discurso sem nostalgia e dialogar com o centro mantendo identidade. Mas, com Bolsonaro preso, o tabuleiro mudou, e o protagonismo ficará com quem permanecer visível durante a tempestade. Mais um detalhe: em janeiro a liderança da Oposição deve passar para o deputado Cabo Gilberto (PL/PB).

Semana de negociação no Congresso

No Congresso, deputados e senadores derrubaram vetos do governo sobre a renegociação das dívidas dos estados e o licenciamento ambiental. A liberação por autodeclaração para empreendimentos de pequeno e médio impacto provocou críticas do Governo. Sob pressão, o governo negocia. Davi Alcolumbre reafirmou as prerrogativas do Congresso.

A Coluna Repórter Brasília é publicada simultaneamente no Jornal do Comercio, o jornal de economia e negócios do Rio Grande do Sul.

Edgar Lisboa