O Homem à Imagem e Semelhança de Deus (Rubens Tavares)

Rubens Tavares/Divulgação

“E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” (Gn. 1.26).

​Narra a Bíblia que depois de tudo criado, Deus formou o homem do pó da terra, à Sua imagem, à Sua semelhança. No meio teológico, o tema tem atravessado séculos de debate sem que se tenha alcançado uma interpretação universalmente acolhida. ​Da mesma forma, discute-se quanto à tricotomia ou dicotomia da natureza humana.

​De modo geral, os cristãos compreendem o homem como constituído de corpo, alma e espírito. Entretanto, as tradições reformadas — em especial a presbiteriana clássica — entendem que alma e espírito são uma única entidade.

​Sem nos aprofundar nessa discussão, que foge ao propósito deste estudo, partimos do princípio da tricotomia, tomando como referência a declaração do apóstolo Paulo: “… e todo o vosso espírito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Ts. 5.23).

​Mas o que tem a ver o espírito, corpo e alma com a imagem e semelhança de Deus? Tudo. Os dois temas estão intimamente ligados.

​O homem, foi a última obra de Deus, na chamada Semana da Criação.

​Após formá-lo, Deus soprou em suas narinas o fôlego da vida, e o homem tornou-se alma vivente — ou, conforme algumas traduções, ser vivente (Gênesis 2:7).

​De modo ortodoxo, reconhece-se que a natureza se divide em três reinos: animal, vegetal e mineral.

​O homem pertence ao reino animal, mas, diferentemente dos demais, é o único ser racional. Os outros animais agem por instinto — podem ser treinados, mas não compreendem o sentido de suas ações.

O afeto, por sua vez, é característica comum a todo o reino animal.

Definido o homem em linhas gerais, voltemos à narrativa divina da criação, quando formou aquele à sua imagem e semelhança: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança” (Gênesis 1:26).

​Deus é espírito, e é necessário que os que O adoram, O adorem em espírito e em verdade (João 4:24).

​Formado o homem, Deus lhe outorgou autoridade e poderes para administrar a terra, chegando a dizer: “sujeitai-a, e tudo que há na terra”.

​O homem era puro, santo, desconhecia o bem e o mal, pois era perfeito. (Gn.3.22). O homem tinha relacionamento físico-espiritual com Deus, pois passeava com Ele nas manhãs (Gn. 3.8).

​Deus é soberano, onisciente e onipotente — possui todos os atributos divinos — e, ainda assim, é uma Pessoa: tem consciência de Si, estabelece planos, executa Sua vontade e escolhe o que Lhe apraz.

​O homem, embora limitado, reflete essa semelhança: tem consciência de si mesmo, reconhece o mundo que o cerca, faz planos, toma decisões e exerce sua vontade. E, acima de tudo, foi dotado de livre arbítrio (Gn. 2.16 e 17).

​Isto dito, vamos ouvir a Trindade, em Gn 1.26: Façamos o homem (gênero) a nossa imagem, conforme a nossa semelhança. E em 2. 7 diz: Formou o Senhor o homem do pó da terra e soprou em suas narinas o fôlego da vida (Gênesis 2.7).

​Percebemos então três elementos: 1) Imagem, 2) Semelhança e 3) Pó da terra.

​Imagem: representação de alguma coisa. Jesus é a expressa imagem da Pessoa de Deus (Hb. 31.3)

​Semelhança: é aquilo que se assemelha, que reflete, mas não se confunde com o original.

Pó da terra: não temos dúvidas que o homem foi formado de matéria terrena.

​Formado o homem, Deus soprou em suas narinas, dando-lhe o espírito e a alma, ou seja, Sua imagem e semelhança.

​ Nos versículos 27 e 28 de Gênesis 1, Deus confiou ao homem o domínio sobre a terra e os animais, constituindo-o Seu representante. Deus fez o homem à Sua imagem — isto é, dotado de espírito.

De igual modo, ao soprar nas narinas do homem, além do espírito, deu-lhe a alma, expressão de sua semelhança — a capacidade de ter vontade própria, consciência, razão e emoção. A alma é, portanto, a sede do intelecto e das emoções, o “ego” humano..

​O corpo apenas exterioriza a vontade da alma. O homem sem Deus é dominado por sua própria alma — e, sem a influência divina, torna-se presa fácil do inimigo, está à mercê do diabo. ​

​O espírito foi dado ao homem para se comunicar com Deus, ter comunhão com Ele.

​Mas, ao praticar o ato de desobediência (na literalidade bíblica, “comer o fruto”), o homem rompeu sua comunhão espiritual, o espírito do homem morreu para Deus, ou seja, foi separado d’Ele e destituído de Sua glória..

​Nessa passarela, Paulo afirma em Romanos 5.12: “Pelo que como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte”. (Morte, aqui, é a separação do espírito do homem de Deus).

​Com o espírito morto (separado) para Deus, o homem não tinha como alcançar a Salvação (Jo. 14.17) por si mesmo. Por isto Jesus disse: “Não Me escolhestes vós a Mim, mas Eu vos escolhi”(Jo.15.16) e a Nicodemos afirmou ser necessário nascer de novo (João 3.7). O Nascer de Novo e a vivificação do espírito, voltando o nascido a ter contato e comunhão com Deus.

​O novo nascimento é, portanto, a vivificação do espírito, restabelecendo a comunhão perdida com Deus.

Quando o espírito é vivificado, recebemos o Espírito Santo, que passa a habitar em nós e nos guia em toda a verdade.

A partir daí, o Espírito Santo domina a alma, que, por sua vez, sujeita o corpo, fazendo do homem um ser restaurado à imagem e semelhança de Deus.

Rubens Tavares é advogado, escritor, membro da Academia Evangélica de Letras do DF.